segunda-feira, 10 de agosto de 2015

E você chegou...

Contrações em ação, uma dor insuportável tomou conta do meu corpo e naquele instante eu só pensava na anestesia..."e seu eu apagar? Não verei meu filho nascer!", explico, não tenho medo de anestesias nem agulhas, mas geralmente eu apago com este processo anestésico e só acordo horas depois. Meu medo era não conseguir te ver ao nascer e demorar muito para voltar ao estado consciente. Então voltei a rezar, pedindo a Deus que me livrasse da anestesia.

Entrei na sala de parto, sua tia Nalva foi orientada a se preparar para assistir ao parto enquanto a equipe me preparava para parir.

- Olá, sou a Márcia e serei sua anestesista - se apresentou uma moça simpática com uma voz doce e firme. Ela explicou todo processo anestésico e virou-se dizendo: "Vou aplicar sua anestesia"

Mas Deus ouviu minhas preces novamente e, antes mesmo da anestesista se voltar para mim, senti uma forte contração e tive tempo apenas de dizer: "Doutora, vai nascer!"

A doutora estava alinhando com a pediatra sobre sua internação na UTI Neonatal e levou um baita susto quando você nasceu sem nenhum esforço ou ajuda, ela apenas o amparou e sorriu, dizendo: "olha que lindo o Miguel!". Sua tia nem conseguiu entrar para ver o parto...rs

Mas não pude vê-lo, a pediatra o levou às pressas para realizar todos os processos necessários e só depois de alguns minutos é que lhe trouxeram de volta, já todo cheio de aparelhos, dentro da incubadora. Mal conseguia enxergá-lo, mas fiquei feliz em saber que você era perfeito. Sorri aliviada.

E foi assim que você veio ao mundo, de forma rápida e tranquila, pesando apenas 1.280gr e medindo 36 centímetros. Não fotos para registrar este momento, mas tudo está nitidamente em minha memória.

11h09 do dia 27 de dezembro de 2011, um momento que jamais esquecerei...

sábado, 8 de agosto de 2015

A bolsa rompeu...


Manhã de uma terça-feira, dia 27 de dezembro, acordei assustada com a cama molhada, logo pensei "fiz xixi na cama", esses pensamentos espertos de mãe de primeira viagem. Me levantei às pressas, e uma "água" não parava de sair de mim, passou a molhar todo o quarto. Eu, sem saber do que se tratava, não me apavorei, peguei o telefone e liguei para sua tia Nalva, expliquei o ocorrido e ela calmamente pediu para que eu ligasse para minha médica e ficasse calma, que ela estava à caminho.

Olhei no relógio, era apenas 5h30 da manhã, não tive coragem de ligar para a Dra. Monica à esse horário, uma vez que havia acabado de mudar de obstetra e tive apenas uma consulta com ela, imaginei comigo: "não tenha intimidade ao ponto de ligar para ela a essa hora". Decidi enviar apenas um SMS e torci para que ela respondesse. Fui para o banho, (sim, como mãe de primeira viagem, eu não fazia ideia do que estava acontecendo, e não queria sair de casa sem banho ou desarrumada...rs), ao sair do banho um SMS da doutora: "Fique tranquila e vá para o hospital, eles irão te examinar e me acionar sobre o seu quadro clínico". Foi o que fiz.

Chegando ao hospital minha irmã logo acionou as enfermeiras e comentou sobre a suspeita de bolsa rompida, eu ainda estava muito tranquila, e só observava os procedimentos. Correria, examina aqui, examina ali, a enfermeira olha pra mim e diz:

- O médico virá falar com você, o seu caso é de bolsa rota
- Mas que raios é uma bolsa rota? - respondi cheia de dúvidas
- Sua bolsa rompeu, você vai entrar em trabalho de parto - respondeu sorrindo simpaticamente

Como assim minha bolsa rompeu? Não são 40 semanas de gestação? Acabei de completar 28 semanas, tá certo isso? Minha cabecinha de grávida inexperiente começou a ferver, mas ainda assim fiquei tranquila e esperei as notícias.

O médico veio, explicou novamente que minha bolsa havia rompido e que eu havia perdido muito líquido, informou que já havia acionado a Dra. Monica e que ela estava à caminho do hospital para me acompanhar. Isso me deixou mais segura.

Sua tia Nalva ficou comigo o tempo todo, segurava minha mão, conversava e contava histórias para me distrair, a gente falava de você, pensamos em tudo que não havia tido tempo de fazer como decorar seu quarto, fazer o chá de bebê, essas coisas todas de mãe...

Enfim, a doutora chegou, ficou preocupada porque em nossa última consulta você estava sentado, então, dificilmente eu poderia ter um parto normal. Fiquei apreensiva, não tinha planos (nem vontade) de realizar uma cesariana. Me explicou sobre o processo do parto, de todos os riscos e também sobre o fato de que você iria direto para a encubadora. Foi difícil compreender tudo de uma vez, mas ela conseguiu fazer com que eu compreendesse sem me desesperar. Então orei muito, pedindo à Deus e à Nossa Senhora que me concedesse a graça de ter um parto normal, pois não queria passar por essa cirurgia. Fui levada para a sala de ultrasson e, grande foi o meu alívio quando ouvi da médica que você estava devidamente encaixado, já pronto para o parto, um parto normal. Deus é bom demais meu filho e Nossa Senhora sempre olhou por nós.

Porém, mesmo com você encaixado, bolsa rompida e 4 dedos de dilatação, eu não sentia contrações, aliás, eu não sentia absolutamente nada. Me aplicaram medicação na veia para induzir as contrações. Algumas horas depois (confesso que perdi um pouco a noção do tempo desde a minha entrada no hospital), passei a sentir as famosas contrações e isso significava que você estava por vir.

É filho, eu não sabia praticamente nada sobre ser mãe, mas você já estava pronto e querendo nascer.



sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A vida seguiu...

Depois de muito sofrimento, noites em claro e choro, muito choro, eis que resisti a perda do seu pai e segui em frente, afinal, eu tinha que cuidar de você, ainda tão pequeno e indefeso dentro do meu ventre.

Mudamos de casa e de bairro, e começamos uma nova etapa da nossa vida juntos.

Na 20ª semana de gestação fiz uma ultrasson e foi possível identificar o sexo, foi quando eu soube que você seria um menino, e seu nome já estava escolhido: MIGUEL.

Comecei a montar seu quarto, a pensar com quem você iria parecer, a sonhar muitas coisas e deseja toda felicidade do mundo à você. À noite, após chegar do trabalho, sentada no sofá, eu conversava com você, cantava canções, contava como foi o meu dia e quais eram os meus sonhos... e era o momento em que você mais mexia na barriga da mamãe. Era delicioso adormecer ouvindo Beatles numa versão em canções de ninar que eu colocava para você ouvir...

E assim, seguiu a nossa vida, você e eu, iniciando um novo caminho, com o carinho e apoio da nossa família e amigos...

Acredite meu filho, tivemos os melhores momentos possíveis nessa fase.




  





Uma manobra do destino...

Após a notícia de que eu estava grávida, ficamos nervosos, não havíamos planejado ter um filho naquele momento, mas estávamos felizes, pois teríamos a família que um dia sonhamos...

Mas, o destino encarregou de mudar tudo isso e, no dia 03 de agosto de 2011, tivemos a notícia de que seu pai estava com uma aneurisma na aorta, um problema muito sério, pois a dilatação estava muito acima do comum. Os médicos indicaram uma cirurgia delicada, que deveria acontecer o quanto antes.
Naquele instante senti tudo se abalar, tive medo, chorei... e seu pai, com todo carinho e coragem segurou a minha mão e disse: "Não se preocupe, essa não é a primeira cirurgia que encaro, vamos fazer tudo de uma vez para que eu possa curtir muito esse moleque que está chegando", sim, ele já sentia [e sempre dizia] que seria um menino...

Passaram-se alguns dias entre exames e demais procedimentos para solicitar a cirurgia, até que o dia chegou e, no dia 18 de agosto de 2011, seu pai foi internado para realizar o processo cirúrgico. Chegamos cedo ao hospital, ficamos juntos o tempo todo, como se aproveitando cada minuto que tínhamos um com o outro. Um pouco antes de seguir para o centro cirúrgico, nos despedimos, ainda no quarto, ele colocou a mão em minha barriga, beijo e disse: "Até daqui a pouco filho"...

Após intermináveis 10 horas de cirurgia tivemos a notícia de que o lado direito do coração do seu pai havia parado, e ele ficaria em observação na UTI até estabilizar, entramos para vê-lo, seu avô Joaquim e eu, e nos deparamos com uma cena que jamais vou esquecer, ele totalmente desacordado, todo cheio de aparelhos e fios, com um tubo respiratório na boca, sem qualquer movimento ou reação... segurei em sua mão, me esforcei para não chorar, e orei, orei muito. Voltei para casa sentindo um vazio imenso e com muito medo.

A noite custou passar, não conseguia dormir, só pensava em voltar ao hospital para ficar ao lado dele. Então, às 7h da manhã lá estávamos novamente, seu avô e eu, para visitá-lo. Sem novidades, Mauro continuava desacordado, totalmente ligado aos aparelhos, nada havia mudado. Mais uma vez segurei sua mão e orei, pedindo a Deus que o tirasse daquela situação. E pela primeira vez, vi seu avô chorar, aquele japonês sério, calado e que quase nunca expressava sentimentos, estava sofrendo.

Voltei para casa, às 15h teríamos um novo horário de visitas e poderíamos conversar com os médicos, e eu tinha a esperança de ter boas notícias. Mas, infelizmente a boa notícia não veio, quando eu estava a caminho do hospital ele teve outra parada cardíaca, ninguém quis me contar, temiam por eu estar grávida, então apenas me ligavam perguntando se eu estava chegando... fiquei tensa, apreensiva, sentia que algo estava errado... e quando cheguei ao hospital, a notícia de que ele acabara de falecer...

Perdi a noção de tudo naquele instante, nada mais fazia sentindo, eu não sabia o que fazer ou pensar, apenas chorava desesperadamente... briguei com Deus, não achava justo ele ter levado seu pai dessa forma, naquele momento tão especial que estávamos vivendo, te esperando com tanto amor. Mas não houve jeito, seu pai se foi para sempre...

Dia 19 de agosto de 2011, o dia em que nossa vida mudou por completo...

domingo, 6 de novembro de 2011

Como tudo começou...

Era uma segunda-feira, dia 25 de julho de 2011, fazia frio, o dia estava nublado. Eu estava tensa por uma série de acontecimentos e passei o dia no quarto, aguardando o resultado do exame de sangue. Finalmente o resultado foi liberado, seu pai estava ao meu lado, ambos nervosos, e eis que a confirmação chegou, eu estava grávida, você estava à caminho, Miguel.

Tive medo, nao posso negar, mas também fiquei feliz. Seu pai ficou com cara de bobo, sorrindo pra mim com um brilho nos olhos diferente, ele sempre te quis muito. E foi assim que tudo começou meu filho, foi seu primeiro sinal de existência para nós. E muita coisa mudou...


Demorei para começar a lhe escrever essa história, mas sei que irá compreender os motivos.


Alcione e Mauro, seus pais.